segunda-feira, 29 de março de 2021

Fardos Necessários - Espinho na Carne



Para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar. 

(Apóstolo Paulo, 2 Coríntios 12:7)


Se vocês pesquisarem no google ou no YouTube o tema  "espinho na carne" agora, vocês verão alguns sites e vídeos de pessoas tentando explicar qual era esse espinho na carne que Paulo se referia. Bom, honestamente eu não posso imaginar muita coisa além de conjecturas e até mesmo fantasias para dar uma resposta para isso. Alguns dizem que Paulo tinha um problema de visão,  "sequelas" daquele encontro com Cristo que o deixou momentâneamente cego, outros vão dizer que era um pecado de Paulo de cunho sexual e outros vão dizer qualquer outra coisa. Gente, convenhamos, tudo isso me parece fantasioso demais e nem um pouco relevante para a nossa vida cristã.  Não entendo a necessidade de uma resposta para isso, visto que o próprio Paulo não entrou em detalhes. Com todo respeito, mas me parece mais uma "fofoca gospel" do que qualquer outra coisa.

A Segunda Carta aos Coríntios é um livro maravilhoso, cheio de profundidade e tesouros inefáveis (como diz o próprio Paulo) para o nosso deleite. Seu ápice está no capítulo 12, onde Paulo conta, ou tenta contar, uma experiência que viveu com o Senhor. Experiência essa tão profunda, tão profunda, que ele se recusa a se colocar como sujeito dessa experiência, citando-a em terceira pessoa, como se não fosse ele. 

"Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos (se no corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe), foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar." (2 Coríntios 12: 2 - 4)

Tais revelações geraram em Paulo um temor muito grande pelo Senhor, a ponto dele tomar todos os cuidados para não se vangloriar diante de tanta glória.  Paulo tinha essa preocupação, pois ele sabia que sua missão era essencial para história do cristianismo e que um ego inflado jogaria tudo por água abaixo. Mas como era difícil se conter diante de uma revelação tão fascinante.  

Por isso, além do temor de Paulo, foi colocado nele um "espinho na carne". E volto a dizer, não importa o que era e sim o porquê da presença dele. E Paulo mesmo explica:  "a fim de não me exaltar." (v.7). Não sabemos qual era o espinho,  mas sabemos a razão de existir dele, que é lembrar que Paulo era um simples pecador carente da graça de Deus, mesmo tendo acesso a revelações profundas e exclusivas da parte de Deus. 

O espinho na carne fez-se necessário. O espinho na carne se tornou um fardo necessário para Paulo. E ele entendeu o motivo, mas não foi de imediato. Paulo a se ver naquela situação incômoda fez o que todos nós faríamos: "três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim." (v.8). Porém a resposta de Deus foi impressionante: "a minha graça te é suficiente, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." (v.9). 

Paulo, como muitos de nós, prefere uma vida sem "espinhos na carne". Afinal de contas, viver com um incômodo que não passa, não é fácil. Tudo que conseguimos fazer é pedir a Deus que tire. Mas e quando Deus não tira? E quando Deus nunca tira? Existem feridas que Deus causa em nós para que ele mesmo cure e nos restaure (está no último texto), mas em algum momento ele sara. São fardos pesados, entedemos que são necessários,  mas uma hora Deus traz o alívio. 

Porém, me parece que quando se trata de espinho na carne, a coisa vai um pouco além. É também um fardo necessário,  porém é um fardo permanente. Se não é permanente é por um tempo beeeeem duradouro. A ponto de olharmos pra ele todos os dias e nos lembrarmos que não somos nada sem o Senhor. É o alarme permanente, o joanete que lateja, a enxaqueca que aparece nos piores momentos... ele está ali nos dizendo: "oi, muito prazer, seu espinho na carne."

Você tem um, eu sei. Eu também tenho e a gente tem que aprender a conviver com ele. Sabe por que? Ele é um mal necessário que nos faz lembrar que viemos do pó e ao pó retornaremos. Ele está ali pra te mostrar o quanto você é dependente de Deus. Bendito é aquele que tem um espinho na carne pra não se exaltar. O que você prefere, um espinho na carne que te lembre da sua condição humana ou uma vida de plena bonança que vai fazer você esquecer de Deus? Ah, eu prefiro carregar esse fardo pro resto da vida. 

Eu amo essa resposta de Deus a Paulo. Essa resposta serve pra todos nós em nossos momentos de crise profunda. Queremos a solução pros nossos problemas, mas se não reconhecemos que a graça de Deus nos basta, nos afastaremos de Deus até que apareça um outro problema para ele resolver. Não é assim a relação que Deus quer ter conosco. Por isso é necessário os percalços, porque esse é o método infalível de Deus para aperfeiçoar o seu poder em nós,  através da nossa fraqueza. Nunca falha! 

Nós somos o nosso maior inimigo e Deus sabe disso. Por isso precisamos deixar Deus domar a nós mesmos por causa de nós mesmos. Todo aquele que se aproxima de Deus e conhece o seu infinito amor não quer nunca mais se afastar Dele. E uma vez na presença Dele, sabemos que a única coisa que pode nos separar do Senhor não é o que vêm de fora e sim o que está dentro de nós.  Por isso devemos lutar contra o nosso ego, nossa autossuficiência, nossa arrogância todos os dias. Porque só isso pode nos afastar do Senhor.

Existem fardos necessários que precisamos carregar pro nosso próprio bem. Que ele não produza blasfêmia em nossos lábios,  mas adoração e confiança que Deus sabe o melhor para nós. Para alguns fardos Ele dirá: "vinde a mim todos vós que estás cansados e eu vos aliviarei...", para outros Ele dirá: "a minha graça te basta...".

Que a nossa oração então seja: A sua Graça me basta, Senhor. Aperfeiçoe o seu poder em mim. Seja feita a sua vontade. Amém!

Deus te abençoe!


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