terça-feira, 28 de setembro de 2021

A Militância do Ego - O Amor Segundo o Ego


A melhor definição de amor está nas palavras de Paulo na primeira carta aos Coríntios, capítulo 13. Esse texto entrou para o cânon da literatura religiosa e secular. O amor citado por Paulo está nas canções, poesias e sermões ao longo da história. Mas será que todos entenderam de fato o que é o amor? 

Vamos ao que Paulo disse em duas partes: 

A primeira é o que não é amor...

"Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como um prato que retine. Ainda que eu tenho o dom de profecia e saiba todos os mistérios e tido o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover os montanhas, mas não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que eu possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá."(v.1-3).

Nós costumamos chamar de amor aquilo que não é amor. Desde sempre foi assim. Confundimos amor com ter ou fazer alguma coisa, quando, na verdade, amor é uma questão de ser. Me comunico bem com o mundo físico (homens) e com o mundo espiritual (anjos), tenho o dom de falar em nome de Deus através de profecias, sei dos mistérios e das ciências, tenho tanta fé que transportar montanhas não é um problema para mim e, além disso tudo, sou tão desprendido de bens que sou capaz de dar tudo o que eu tenho, inclusive minha própria vida por uma causa, se for preciso. Você acredita que tudo isso pode acontecer sem um pingo de amor? Mas, nós, vendo de fora, vemos em tais atos um modelo de amor. Tudo pode ser produto do ego disfarçado de amor. Porque o ego não está relacionado com o "ser amor ", mas com o "parecer ser" através do ter e fazer. Então, se não sou, eu simplesmente faço e tenho somente.

A segunda parte é o que é o amor...

"O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não senira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca acaba." (v. 4-8).

Paulo, consciente ou não, descreve Jesus através da sua explanação sobre o que é amor. Não é atoa que o apóstolo João diz na sua carta que "Deus é amor". Jesus é a expressão exata do amor, é a encarnação do mesmo. Portanto, o amor não tem nada a ver com si mesmo, o que tem a ver com si mesmo é o ego. Quando o foco é somente o que eu tenho e o que eu faço, por mais que pareça amor, o foco sou eu. Esse é o amor a imagem e semelhança do ego, não de Jesus.

O amor é paciente...

O ego se alimenta de resultados imediatos e voltados para si. O amor não tem a mínima pressa e está disposto esperar pelo bem de todos. Quando escolhemos amar, nem sempre o outro é ou está do jeito que nos agrada. Mas, se há amor, nós não desistimos do outro, porque o amor é paciente.

O amor é bondoso...

O amor é bondoso, e quando praticamos a bondade, os alvos não somos nós, mas o outro. O amor é para o outro. O ego pode praticar a bondade em atos, mas se não há nenhum benefício para si, ele rejeita.

O amor não inveja...

A inveja é um dos filhos prediletos do ego, pois é através da inveja que desejamos aquilo que nem é nosso e sofremos por isso. O amor não inveja, porque não necessita ter aquilo que não é seu e é completo com o que se têm. Além do mais, o amor se alegra com as conquistas do outro.

O amor não se vangloria, não se orgulha...

Ah, nem preciso dizer que o ego não existe sem nos vangloriamos e nos orgulharmos. Esse é o combustível do ego. Se não há auto-exaltação, há amor. Se há auto-exaltação, há um ego dominante. O amor não precisa de nada disso. Quem ama é feliz tendo o reconhecimento dos homens ou não. O que importa para o amor é a simplicidade de ser. 

Não procura seus próprios interesses...

Eu adoro essa parte. O amor é desprendido de si. O amor não precisa viver uma vida para realizações pessoais somente. Qual o interesse do amor? Paulo responde: não é o nosso. O amor está constantemente em busca do contentamento do próximo e, se o próximo está feliz e amado, eu estou feliz e realizado. Já o ego é o oposto disso. Até mesno em um relacionamento amoroso estável, com uma relação aparentemente saudável, o ego está ali. Sabe por que? Porque há reciprocidade. Basta acabar a reciprocidade de um dos lados, que o amor acaba e o ego mostra a cara. Aquilo que o ego chama de amor, nada mais é do que "eu te dou amor, se você me der de volta". Caso o contrário não há amor, porque uma relação amorosa baseada no ego necessita de reciprocidade pra existir. Isso não é amor, pois o amor não busca seus próprios interesses e nem depende do amor do outro para amar.

O amor jamais acaba...

Uma coisa completa a outra. Se eu não dependo do amor de outro para amar, então, o amor jamais acaba. O "ser amor" não depende de circunstâncias para existir, ele é. Ele é independente de qualquer coisa. No universo egoísta o amor acaba e começa o tempo todo. Mas isso não é amor, é relação baseada em si com a militância do ego. 

O amor é eterno e inabalável. Veja se o que está no seu peito é amor ou ego disfarçado de amor. O amor não confunde. Já o ego grita quando você não é o centro das atenções. 

Que o Senhor nos permita amar com o verdadeiro amor e nos livre das encenações do ego. 

Que Deus te abençoe. 






terça-feira, 21 de setembro de 2021

A Militância do Ego - Desequilíbrio


Eu aprendi uma coisa nessa vida: ninguém gosta de calor e nem de frio! Aí você pode me dizer: "você não aprendeu nada, Fabrício. Eu adoro o calor" ou " eu adoro o frio". Então eu pergunto o porquê. Aí muitos de vocês vão me responder: "eu gosto de calor porque eu posso ir à praia", ou então "eu gosto de frio porque eu posso ir para uma serra e me aquecer em uma lareira comendo um belo fondue". Pois bem, então isso só reforça a minha tese. Nós não gostamos do calor e nem do frio, nós gostamos de matar ambos. Se sua resposta for: "eu prefiro matar o frio do que matar o calor", aí sim a gente começa a entrar em um acordo. Nós estamos constantemente em busca do equilíbrio das coisas. 

Sendo assim, quando está aquele calor escaldante, nós nos sentimos bem quando estamos em uma piscina, ou em um ar condicionado agradável. Ou então debaixo de uma árvore tomando um sorvete. Mas ninguém, absolutamente ninguém, gosta de ir para o meio do asfalto, aos 40 graus com roupa social. Ninguém se sente bem suando bicas no meio de um engarrafamento em um carro ou ônibus sem ar. 

Da mesma forma, é maravilhoso quando estamos debaixo de um edredom, vendo filme e comendo uma pipoca quando la fora o termômetro está marcando 15 graus. Não seria nada agradável estar do lado de fora com uma camisa de mangas curtas sentindo aquele vento cortar sua pele. Sabe por que? Porque não amamos o frio e nem o calor, nós amamos matar ambos e atingir o equilíbrio que o nosso corpo necessita para nos sentirmos confortáveis. É sobre isso...

Não fomos criados para os extremos e sim para o equilíbrio. Salomão escreveu o livro de Provérbios com o seguinte propósito: "para desenvolver um caráter correto e perspicaz, vivendo de maneira justa, com equidade e bom senso" (Provérbios 1:3). Segundo o dicionário, equidade significa basicamente: equilíbrio, justiça e moderação. Uma vida sábia deve ser pautada, dentre outros aspectos, no equilíbrio. Isso serve para tudo. 

O sal, por exemplo, é indispensável para a maioria das comidas humanas. Ele dá gosto às coisas. Mas procure pôr sal demais. Você não conseguirá comer. Então procure pôr sal de menos, você também não ficará muito contente. O sal é uma benção, mas usado de forma equilibrada. Da mesma forma se você gosta de se perfumar. Como é desagradável aquela pessoa que abusa do perfume no trabalho e você termina o seu expediente com dor de cabeça de tanto inalar aquele cheiro. A moderação resolveria esse problema. Todo exagero é prejudicial. Até o cuidado em excesso é prejudicial. Muitos pais se preocupam tanto com os filhos, que os prende em casa com medo do mundo. Esse excesso de zelo termina prejudicando o desenvolvimento deles, mesmo que o cuidado esteja por trás disso. Se contém excesso, contém engano.

Mediante a estas constatações citadas acima, percebemos que, embora a vida peça por equilíbrio, nós constantemente somos impulsionados aos extremos. O ego é o principal agente desse processo antinatural.  O ego milita por uma vida de desequilíbrios. Quando damos ouvidos ao ego, certamente escolhermos algum extremo para chamar de nosso. 

Faça o teste você mesmo: você sente a necessidade de mostrar sua infelicidade para todos? O ego nos leva a mostrar para todos o quanto estamos tristes, para que se compadeçam de nós ou prestem atenção em nós. Isso é muito comum para quem tem o ego como senhor. Mostrar-se triste por algo que alguém nos fez, em muitas das vezes, é para passar a seguinte mensagem: "Vejam todos o que me fizeram. Vou mostrar uma profunda triste a ponto de sentirem um remorso tão grande pelo que fizeram.". Já vi situações de pessoas se cortarem para cahamar a atenção e, até mesmo, fingirem alguma doença grave. Isso não tem nada a ver com depressão. Depressão é uma patologia na qual, na maioria das vezes, a pessoa quer fugir de tudo e todos. O sentimento de tristeza é natural nesses casos, mas, se puder, o depressivo não demonstra pra ninguém. 

O outro extremo também é muito comum para quem tem o ego como senhor. É quando a pessoa tem como lema não mostrar tristeza ou derrota alguma. Essas pessoas querem passar o tempo todo a imagem de felicidade. Nada dá errado em suas vidas e a felicidade é inabalável. As redes sociais estão cheias dessas pessoas. Porém, há um perigo muito grande quando o personagem criado se confunde com o mundo real. De tanto querer mostrar que está tudo bem, a vida se torna um grande teatro. A ponto de a pessoa não saber mais separar a realidade da ficção. Foi o ego que te ensinou isso com a desculpa de que ninguém precisa saber das suas dores. Só que assim você se tranformou em uma mentira. 

Entenda, o ego não nos conduz a soluções equilibradas, mas a atitudes extremas focadas no nosso orgulho. Seja uma tristeza escancarada para afetar as pessoas ao seu redor, ou uma falsa felicidade perpétua para atrair a admiração de todos. O que importa para o ego é que você seja notado. Seja pela comiseração das pessoas ou pela admiração.

Siga o conselho de Salomão e viva uma vida equilibrada. Nada em excesso é bom e tudo em excesso é militância do ego. Não é interessante para o ego o equilíbrio das coisas, porque é no equilíbrio que se descobre o veneno do ego. Causar desequilíbrio é uma das suas bandeiras, portanto, vença-o com moderação. Examine-se e veja se suas escolhas são equilibradas. Caso não sejam, pode ser que o ego esteja ocupando lugar demais ainda na sua vida. 

Que Deus te abençoe.  

terça-feira, 14 de setembro de 2021

A Militância do Ego - Indiferença



"O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença."

Não sei exatamente de quem é esta frase, mas ela traz consigo uma profunda verdade. Quando odiamos alguém, seja por qual for o motivo, nós descarregamos ali algum sentimento, mesmo que seja um sentimento ruim. Porém, quando somos indiferentes àquela pessoa, nós simplesmente ignoramos a sua existência. Então, em um extremo está o amor e no outro a indiferença. São opostos, são antagônicos. 

É infinitamente menos doloroso um "eu te odeio" do que um "eu não me importo com você". Segundo a psicologia, o ódio é amigo/irmão do amor, pois é o produto de uma decepção ou de ciúme, na maioria das vezes. O ódio é o descontentamento mediante a expectativa frustrada que depositamos em alguém. Já a indiferença é o total desprezo. É a insignificância, a nulidade do próximo. Quando tratamos alguém com indiferença, nós dizemos que a existência daquela pessoa não importa. Ou seja, tanto faz se ela está viva ou morta. Ela não significa absolutamente nada para nós. Isso sim é o oposto do amor.

Todos nós já fomos tratados com indiferença um dia. É sem dúvida uma das piores sensações do mundo. Sabemos que o ódio não vem de Deus, porém a indiferença é algo satânico. Quando chegamos ao ponto de tratar o outro com indiferença, nos tornamos o próprio diabo. É diabólico. Como muitos dizem por aí: "falem mal de mim, mas falem de mim", porque não ser lembrado é a pior das punições humanas.  Quando decidimos pelo caminho da indiferença, nós colocamoso outro num tribunal, julgamos e condemanos. E a punição é a prisão perpétua em uma ilha no meio do oceano. 

Mas vocês sabem qual é a raiz da indiferença, não sabem? Exatamente! O ego é a raiz de toda a indiferença. Ou melhor: o ego milita em prol da indiferença. A indiferença está presente na vida de quem é dominado pelo ego. Porque ser indiferente significa que matamos pessoas em vida para que o nosso bem-estar seja completo. É isso. O ego nos enche de razão em praticarmos o ato mais desumano possível. 

Tenha suas diferenças com o próximo (caso seja inevitável), evite odiá-lo, mas se o ódio aparecer no seu coração não permita que ele se espalhe pelo seu corpo em metástases a ponto de se transformar em indiferença. A indiferença é , em muitas vezes, um sentimento ruim não tratado. Por isso a importância do perdão. Por isso a importância de não deixar pontas soltas na sua existência. Resolva o que tem que ser resolvido. Ao menos faça a sua parte. Se ainda assim não haver solução com o próximo, resolva dentro de si. 

O ego está com a sua bandeira levantada dizendo: "Seja indiferente!", nos mostrando essa alternativa como a única para viver em paz. A paz de Deus não exclui quem nos persegue e muito menos quem pensa diferente de nós. A paz de Deus está além e apesar disso. Não dê ouvidos ao seu ego, ele é um fracassado e quer te fracassar também. 

Quer praticar a indiferença? Pratique-a contra o seu ego. Ignore-o, despreze-o, o coloque a margem da sua vida. Um dia a gente vence ele. Nunca desista. 

Que Deus te abençoe. 

Levanta-se e Ande!

"Então Jesus lhe disse: 'Levanta-se! Pegue a sua maca e ande.'" (João 5:8) "Tenho-vos dito isso, para que em mim tenh...