segunda-feira, 26 de abril de 2021

Esculturas de Nós Mesmos - Têm Boca, Mas Não Falam

 


"Têm boca, mas não falam..."  (Salmo 115:4)

Uma das características dos ídolos feitos em imagens de escultura é ter boca, mas não falar. A capacidade de se cominicar através da fala é fundamental nas relações humanas e espirituais de todos nós. Comparando com os outros seres viventes, só nós,  humanos, temos essa capacidade. Pessoas mudas e(ou) surdas se comunicam através de uma linguagem não verbal, ou seja, a linguagem por sinais. 

Toda criança nasce com a fala ainda não desenvolvida. Segundo estudos de linguística, ela já nasce com estruturas gramaticais predefinidas no seu cérebro, o que chamam de gramática universal.  Então,  independente da língua, a criança irá desenvolver naturalmente a fala sem grandes esforços. O contato com o meio ajuda nesse desenvolvimento, mas é só uma ajuda mesmo, porque toda a estrutura complexa da fala já está na criança desde sempre. 

A fala é algo divino. Aquilo que fazemos tão naturalmente é algo magnificamente  elaborado por Deus. Num processo de comunicação verbal existem os integrantes, que são: o emissor (falante ou locutor) é aquele que transmite a mensagem; o receptor (ouvinte ou destinatário) é aquele recebe a mensagem transmitida pelo emissor; o código (conjunto de sinais) é a língua que faz com que a mensagem seja clara para quem ouve; e a mensagem (objeto da comunicação) que é o assunto tratado na comunicação entre o emissor e o receptor. Assim nos comunicamos de forma verbal. 

A Bíblia diz que tudo que foi criado é para a glória de Deus. Sendo assim, se Deus nos dotou da capacidade de falar, é evidente que a nossa fala seja, sobretudo, para glória do Senhor. Não é verdade? Imagens de escultura não glorificam a Deus através da fala, pois não podem falar. 

Porém, nós temos boca e podemos falar. E falamos... como falamos. Nossa geração não sabe ouvir, por isso fala o tempo todo e sobre tudo. As redes sociais estão cheias de falantes. De repente, todo mundo passou a ser PHD em tudo o que é assunto. Falamos sobre política, ciência, medicina, economia e etc. Falamos muito sobre Deus também. Nossa! É Deus para lá,  Deus para cá. Jesus é isso, Jesus é aquilo. Falamos, falamos, falamos e não transmitimos nada, nadinha. 

Então não é sobre a capacidade de falar e se comunicar, mas é sobre a capacidade de transmitir. Deus não nos criou seres faladores, mas seres transmissores de algo. A língua tem a mesma capacidade de matar e de salvar; de abençoar e amaldiçoar; de exaltar e humilhar; de curar e também ferir. Então, não basta falar muito,  mas o que sair da sua boca tem que ter substância,  tem que ter vida (Tiago 3). Sem isso é como se fossemos mudos no mundo espiritual. E isso não tem nada a ver com a pessoa pacata que pouco fala. Se o pacato no pouco que fala transmite vida na sua fala, ele vale mais que um extrovertido que muito fala e nada transmite.

Se alguém compartilha conosco algo que a aflige profundamente, essa pessoa espera que transmitamos para ela algo que a console, a encorage, a levante. Então não adianta vir com o mesmo discurso de sempre de que "vou orar por você ", "eu sei o que você está passando", "seja forte", essas coisas. Quando fazemos assim, não passamos de imagens de escultura de nós mesmos, sem capacidade alguma de transmitir algo. Se a sua fala não glorifica a Deus, é melhor calar-se. 

Deus nos chamou para sermos proclamadores do seu Evangelho. Proclamar significa: declarar efetivamente, afirmar, asseverar (dicionário). Imagens de escultura nada proclamam. Nos tornamos esculturas de nós mesmos quando não proclamamos o Evangelho da Salvação. Sabemos que não é fácil, mas Deus nos deu a solução lá atrás quando os discípulos tiveram a mesma dificuldade: "Porquanto, naquele momento, o Espírito Santo vos ministrará tudo o que for necessário dizer." (Lucas 12:12). Entenda, Deus nos deu a capacidade de falar para falar através de nós ao mundo. Quando o próprio Deus fala através de nós, a Palavra se torna irresistível ao receptor, como está em Atos 6. 9 e 10: "E, estes homens começaram a discutir com Estevão; contudo, não podiam resistir a sabedoria e ao Espírito com que ele argumentava.". A fala é uma arma de Deus ao nosso favor. 

Então, meus irmãos, não permitam se tornarem esculturas de si mesmos,  antes, que a sua boca seja instrumento de Deus para transmitir vida ao mundo. Você não foi chamado para ser um receptor somente nesse processo de comunicação, mas, sobretudo, transmissor de boas novas. Seja!

O processo de "esculturalização" é sútil e imperceptível. Então examine a si mesmo e veja no que você se tornou: em um proclamador de boas novas como Jesus, ou como os ídolos feitos de gesso, que têm boca, mas não falam. 

Deus te abençoe.


terça-feira, 13 de abril de 2021

Esculturas de Nós Mesmos - Introdução


"Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem.
 Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam..." (Salmo 115: 4 - 7)

É curioso o fenômeno milenar de adoração de imagens de escultura. Não só o catolicismo, mas tantas outras religiões ao longo dos tempos praticam à adoração à imagens feitas por mãos humanas. Deus condena tal prática, pois ele é real e não divide sua glória com coisa alguma, que dirá com uma escultura. Mas hoje em dia acontece um fenômeno ainda mais curioso e um tanto quanto mais perigoso: é quando o Salmo 115 (citado no topo) passa a se referir não à imagens de escultura, mas a seres humanos. Vivemos em uma geração de imagens de escultura ambulantes. Repare no texto acima e note a semelhança com o homem moderno: 

têm boca, mas não falam; 

olhos têm, mas não vêem; 

narizes têm, mas não cheiram;

têm mãos, mas não apalpam;

pés têm, mas não andam.

Se me perguntasse qual seria a definição do homem moderno eu diria sem duvidar às características acima. Não eram para ser características humanas, mas nos tornamos como imagens de escultura. Se a questão era adorar imagem, agora a questão passou a ser a nossa transformação nas mesmas. Parece que ao passar dos tempos perdemos às nossas capacidades básicas humanas. 

Uma das primeiras coisas que aprendemos na escola são os nossos sentidos. Os nossos sentidos revelam que somos humanos. Nós possuímos paladar, olfato, visão, audição e tato. Salvo às exceções, a maioria de nós possui os cinco sentidos. E eles são fundamentais para uma vida plena em todos os aspectos. 

Porém, o que a escola não ensina, é que não basta ter visão para ver, olfato para cheirar, paladar para saborear, audição para ouvir e tato para sentir. Nós podemos estar 100% aptos em todos os sentidos e mesmo assim sermos um fracasso na utilização dos mesmos. É isso que a Bíblia nos revela e é esse o retrato do homem moderno. 

As imagens de escultura desde sempre não possuem a capacidade de falar, ouvir, cheirar, ver, sentir e andar... são apenas imagens. Elas nunca chegarão à condição de humanos. Em contrapartida, a maioria de nós nasce com essa capacidade e vamos aperfeiçoando ao longo da vida. Com isso, somos incapazes de nos tornarmos como imagens de escultura. Bom, pelo menos assim deveria ser, mas não é assim que acontece. 

A prova disso é que possuímos olhos , mas somos incapazes se ver a necessidade do próximo. Possuímos  boca, mas nos calamos diante da injustiça social. Possuímos nariz, mas não conseguimos sentir o perfume da vida. Possuímos mãos, mas somos incapazes de sentir a dor do outro em empatia. Possuímos pés, mas esperamos sentados que as coisas cheguem até nós. Enfim, nos tornamos mais que idólatras de imagens, nos tornamos às próprias esculturas de nós mesmos. 

Por isso tanta gente opta pelo negacionismo. Porque é muito mais cômodo não ver, não ouvir, não sentir, não pensar e não discernir. Colocam-se numa condição de atrofia cognitiva, pois encarar a verdade de frente,  para muitos, é como se enfrentassem o inferno. Com isso, vão se petrificando à imagem de uma estátua, de uma escultura de si. 

O curioso que a Covid nos mostrou aquilo que já era uma realidade faz tempo. Pois temos a capacidade de estar juntos, mas optamos pelo distanciamento. Então, por que reclamam das medidas de isolamento? Já praticamos o isolamento faz tempo. A nossa geração virtual está próxima pelas redes, mas distante pessoalmente. E não é só um distanciamento físico, porque não basta estar junto quando a mente está longe. Não há tato faz tempo. Outra coisa são alguns sintomas da covid, como: falta de paladar e olfato. Ora, me parece um tanto irônico isso acontecer num mundo que não sente o perfume da vida e não degusta dos seus dias com prazer. Perder olfato e paladar também não é nenhuma novidade pra quem se transformou em apenas uma escultura de si mesmo. 

Nos próximos textos vamos falar de cada característica das imagens de escultura que passaram a ser nossas, em uma série de 5 textos.

Que Deus te abençoe! 


terça-feira, 6 de abril de 2021

Fardos Necessários - Escamas Nos Olhos



"Imediatamente lhe caíram dos olhos algo parecido com umas escamas, e ele passou a ver de novo..." (Atos 9:18)

Saulo de Tarso (Paulo), religioso, no caminho de Damasco, crente que estava incumbido de uma grande obra, foi surpreendido. Ele era fariseu, doutor da lei e "defensor" da mesma. Estava empenhado em desmascarar aquele que, segundo ele, era uma ameaça para a sua fé e tradição: Jesus de Nazaré! Embora Jesus já estivesse morto, uma numerosa legião surgia em Seu nome para continuar a sua obra interrompida brutalmente na cruz no monte calvário. Matar cristãos (semelhantes a Cristo) era o seu objetivo na vida. Já havia matado, ou mandado matar, muitos e não sossegaria enquanto não fizesse cessar essa onda Messiânica que insistia em se multiplicar nos seus dias. 


E Saulo estava aprovando o assassinato de Estevão. Daquele dia em diante, estabeleceu-se grande perseguição contra a Igreja em Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e de Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estevão e derramaram seus corações em pranto por seu martírio. Saulo, por sua vez, devastava a Igreja, invadindo casa após casa, arrastando homens e mulheres para jogá-los ao cárcere.
(Atos 7: 1 - 3)

Paulo não conseguia entender o porquê dessa gente não se intimidar. Já não bastava a morte cruel do próprio Cristo, agora Estêvão fora apedrejado em praça pública aos olhos de todos e os seguidores de Jesus só aumentavam. 

Então, Paulo seguiu em direção a Damasco, onde encontravam-se sinangogas nas quais discípulos de Jesus se reuniam. Ele estava indo pessoalmente com os seus homens para levá-los presos à Jerusalém. Após a morte de Estêvão, na qual Paulo foi figura central, essa perseguição aos cristãos passou a ser cada vez mais constante, a ponto de Paulo não conseguir conter tanta ira e repulsa dentro de si. Havia sangue nos seus olhos e tudo o que via era perseguição e morte daí para frente. 

Mas Paulo foi surpreendido...

"Entretanto, durante sua viagem, quando se aproximava de Damasco, subitamente uma intensa luz, vinda do céu, resplandeceu ao seu redor. Então, ele caiu por terra e ouviu uma voz que lhe afirmava: 'Saulo, Saulo, por que me persegues?' Ao que ele inquiriu: 'Quem és, Senhor?' E Ele disse: 'Eu Sou Jesus, a quem tu persegues;'"
 (Atos 9:3 a 5)

Paulo, que estava indo a Damasco perseguir cristãos foi surpreendido no caminho pelo próprio Cristo. E a luz era tão forte que cegou-lhe imediatamente. Sim, a conversão de Paulo deixou uma sequela. O poderoso Paulo não conseguia enxergar um palmo diante do seu nariz. Paulo ficou atônito e sem entender muita coisa do que estava acontecendo. Porém sua única reação foi obedecer cada palavra do seu novo Senhor.

Paulo era muito senhor de si. Foi discipulado pelo mestre Gamaliel, era poliglota e de família respeitada em todo Israel. O que ele falava era respeitado e não havia nada de novo que o surpreendesse. O homem que não devia satisfações a ninguém,  agora, se encontrava cego e seguindo as instruções daquele a quem ele perseguia, o próprio Senhor Jesus. Foi uma avalanche sobre o irredutível homem. 

A salvação lhe trouxe cegueira. É o que geralmente recebemos quando nos entregamos ao Senhor. Esperamos bênçãos e recebemos sequelas.  Esperamos bonança e recebemos fardos. Para Paulo o fardo foi livramento, pois o homem que via sangue e destruição, passou a enxergar por um tempo só o Senhor. 

Essa limpeza é necessária. A formatação no HD (como diz o pessoal do TI) faz parte de toda e qualquer conversão.  Não há nada que vem de nós que seja usado pelo Senhor nesse novo homem que nasce. Então, a mudança começa através da nossa visão. Se o nossos olhos olhos forem maus, todo o nosso corpo estará em trevas, disse Jesus. 

Por isso, situações sem explicação humana acontecem para que passemos a olhar para o único que pode nos trazer alguma resposta. Se você tem uma vida de respostas pra tudo,  se sua visão lhe é suficiente para te fazer pernacer nos trilhos o tempo todo, saiba, sua conversão pode nunca ter chegado. A conversão provoca cegueira da nossa autossuficiência,  para a lucidez da nossa plena dependência de Cristo. 

Paulo já não sabia mais andar sozinho, então fez de Deus seu tudo. Ele que só conseguia ver pelo olhar religioso, foi obrigado a perder a visão para contemplar somente a Cristo. Se não for assim, não é conversão.  A conversão dói e deixa sequelas no velho homem, para que um novo nasça. A dor do parto é necessária, é um fardo necessário.  

Quando recuperou sua visão, era como se escamas caíssem de seus olhos (Atos 9:18). Paulo estava curado e, agora, seus olhos que só enxergavam sangue e destruição,  passaram a ver o Cristo, não só no caminho de Damasco, mas em tudo, absolutamente tudo.

Que Deus te abençoe!




Levanta-se e Ande!

"Então Jesus lhe disse: 'Levanta-se! Pegue a sua maca e ande.'" (João 5:8) "Tenho-vos dito isso, para que em mim tenh...