Eu aprendi uma coisa nessa vida: ninguém gosta de calor e nem de frio! Aí você pode me dizer: "você não aprendeu nada, Fabrício. Eu adoro o calor" ou " eu adoro o frio". Então eu pergunto o porquê. Aí muitos de vocês vão me responder: "eu gosto de calor porque eu posso ir à praia", ou então "eu gosto de frio porque eu posso ir para uma serra e me aquecer em uma lareira comendo um belo fondue". Pois bem, então isso só reforça a minha tese. Nós não gostamos do calor e nem do frio, nós gostamos de matar ambos. Se sua resposta for: "eu prefiro matar o frio do que matar o calor", aí sim a gente começa a entrar em um acordo. Nós estamos constantemente em busca do equilíbrio das coisas.
Sendo assim, quando está aquele calor escaldante, nós nos sentimos bem quando estamos em uma piscina, ou em um ar condicionado agradável. Ou então debaixo de uma árvore tomando um sorvete. Mas ninguém, absolutamente ninguém, gosta de ir para o meio do asfalto, aos 40 graus com roupa social. Ninguém se sente bem suando bicas no meio de um engarrafamento em um carro ou ônibus sem ar.
Da mesma forma, é maravilhoso quando estamos debaixo de um edredom, vendo filme e comendo uma pipoca quando la fora o termômetro está marcando 15 graus. Não seria nada agradável estar do lado de fora com uma camisa de mangas curtas sentindo aquele vento cortar sua pele. Sabe por que? Porque não amamos o frio e nem o calor, nós amamos matar ambos e atingir o equilíbrio que o nosso corpo necessita para nos sentirmos confortáveis. É sobre isso...
Não fomos criados para os extremos e sim para o equilíbrio. Salomão escreveu o livro de Provérbios com o seguinte propósito: "para desenvolver um caráter correto e perspicaz, vivendo de maneira justa, com equidade e bom senso" (Provérbios 1:3). Segundo o dicionário, equidade significa basicamente: equilíbrio, justiça e moderação. Uma vida sábia deve ser pautada, dentre outros aspectos, no equilíbrio. Isso serve para tudo.
O sal, por exemplo, é indispensável para a maioria das comidas humanas. Ele dá gosto às coisas. Mas procure pôr sal demais. Você não conseguirá comer. Então procure pôr sal de menos, você também não ficará muito contente. O sal é uma benção, mas usado de forma equilibrada. Da mesma forma se você gosta de se perfumar. Como é desagradável aquela pessoa que abusa do perfume no trabalho e você termina o seu expediente com dor de cabeça de tanto inalar aquele cheiro. A moderação resolveria esse problema. Todo exagero é prejudicial. Até o cuidado em excesso é prejudicial. Muitos pais se preocupam tanto com os filhos, que os prende em casa com medo do mundo. Esse excesso de zelo termina prejudicando o desenvolvimento deles, mesmo que o cuidado esteja por trás disso. Se contém excesso, contém engano.
Mediante a estas constatações citadas acima, percebemos que, embora a vida peça por equilíbrio, nós constantemente somos impulsionados aos extremos. O ego é o principal agente desse processo antinatural. O ego milita por uma vida de desequilíbrios. Quando damos ouvidos ao ego, certamente escolhermos algum extremo para chamar de nosso.
Faça o teste você mesmo: você sente a necessidade de mostrar sua infelicidade para todos? O ego nos leva a mostrar para todos o quanto estamos tristes, para que se compadeçam de nós ou prestem atenção em nós. Isso é muito comum para quem tem o ego como senhor. Mostrar-se triste por algo que alguém nos fez, em muitas das vezes, é para passar a seguinte mensagem: "Vejam todos o que me fizeram. Vou mostrar uma profunda triste a ponto de sentirem um remorso tão grande pelo que fizeram.". Já vi situações de pessoas se cortarem para cahamar a atenção e, até mesmo, fingirem alguma doença grave. Isso não tem nada a ver com depressão. Depressão é uma patologia na qual, na maioria das vezes, a pessoa quer fugir de tudo e todos. O sentimento de tristeza é natural nesses casos, mas, se puder, o depressivo não demonstra pra ninguém.
O outro extremo também é muito comum para quem tem o ego como senhor. É quando a pessoa tem como lema não mostrar tristeza ou derrota alguma. Essas pessoas querem passar o tempo todo a imagem de felicidade. Nada dá errado em suas vidas e a felicidade é inabalável. As redes sociais estão cheias dessas pessoas. Porém, há um perigo muito grande quando o personagem criado se confunde com o mundo real. De tanto querer mostrar que está tudo bem, a vida se torna um grande teatro. A ponto de a pessoa não saber mais separar a realidade da ficção. Foi o ego que te ensinou isso com a desculpa de que ninguém precisa saber das suas dores. Só que assim você se tranformou em uma mentira.
Entenda, o ego não nos conduz a soluções equilibradas, mas a atitudes extremas focadas no nosso orgulho. Seja uma tristeza escancarada para afetar as pessoas ao seu redor, ou uma falsa felicidade perpétua para atrair a admiração de todos. O que importa para o ego é que você seja notado. Seja pela comiseração das pessoas ou pela admiração.
Siga o conselho de Salomão e viva uma vida equilibrada. Nada em excesso é bom e tudo em excesso é militância do ego. Não é interessante para o ego o equilíbrio das coisas, porque é no equilíbrio que se descobre o veneno do ego. Causar desequilíbrio é uma das suas bandeiras, portanto, vença-o com moderação. Examine-se e veja se suas escolhas são equilibradas. Caso não sejam, pode ser que o ego esteja ocupando lugar demais ainda na sua vida.
Que Deus te abençoe.
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