Eu não sei de que forma vocês enxergam esse vírus e tudo que ele proporciona. Eu enxergo como um teste de Deus para humanidade, isso inclui aqueles que se dizem filhos Dele. Olhando por essa ótica eu só posso dizer uma coisa: FRACASSAMOS! E eu não tenho dúvida que Deus sempre soube disso. Quando eu falo que fracassamos, não se sinta ofendido, porque falo de uma maneira geral. A humanidade fracassou na pandemia.
Vou te citar alguns dos nossos fracassos:
Fracassamos no teste do tempo. O tempo é o Calcanhar de Aquiles da humanidade. Ao mesmo tempo que ele tem o poder de curar feridas, o tempo tem o poder de matar a nossa esperança e tirar as nossas forças. Eu lembro no início da pandemia que as pessoas procuraram cumprir os protocolos de saúde. Lavando as mãos corretamente, mantendo o distanciamento social higienizando alimentos, dentre outras rotinas pertinentes a um estado de calamidade. A medida que o tempo foi passando muitas pessoas foram abandonando essas práticas e começaram a abusar um pouco mais. E o tempo nos engoliu mais uma vez. Pessoas próximas de nós que não poderiam de jeito nenhum ter contato com vírus, não só tiveram, como foram infectadas por ele. Não vou dizer que foi sorte mas eles poderiam ter ido embora por causa da nossa negligência. O tempo vai matando a gente aos poucos e a gente não percebe. Esperar não é o nosso forte e cumprir regras muito menos, então sempre caímos na mesma mentira de que agora está tudo bem, porque esperar requer disciplina. O vírus está aí até hoje, mais letal do que nunca. Ouvimos sobre a morte de um famoso ou alguém próximo de nós e logo o sinal de alerta é ligado, mas logo vem o tempo e o alerta vai se apagando. Fracassamos por não respeitarmos o tempo, fracassamos por nunca termos aprendido a lidar com ele.
Fracassamos por, sabendo o que é o certo, não fazê-lo porque muitos não fazem. Isso é muito comum para pessoas que vivem em detrimento de outras. Ou seja, se uma maioria age de forma irresponsável, logo, para não parecer diferente da maioria, faço como eles para me sentir inserido. Pensamos: "Por que não devo ir à praia se o Instagram do meu amigo está cheio de fotos de um final de semana na praia? Ele parece tão feliz! Por que eu tenho que me isolar se eu posso curtir a vida?". Fracassamos porque não temos firmeza o suficiente para fazer o certo, ainda que todo mundo faça o errado.
Fracassamos quando não reconhecemos nossos limites. E o vírus nos impôs um limite. Ele é mais forte que nós. Até hoje não se sabe com muita clareza a sua letalidade, o que se sabe é que ele está longe de ser uma "gripezinha". Muito mais que isso, ele mata e mata rápido em muitos casos. Tenho visto notícias de família acabarem por causa do vírus. Isso mesmo: pai, mãe e filhos, todos mortos pelo vírus. Por que então nos sentimos tão poderosos? Reconhecer o nosso limite é uma vitória nesses dias. Ainda sobre isso, uma médica me disse que até os que passaram "tranquilamente" pelo Covid, ou seja, os assintomáticos, correm sérios riscos. Uma vez que o vírus entra no nosso organismo, ele produz algumas mudanças, geralmente alguma inflamação. O que acontece é que mesmo não aparecendo nenhum sintoma no momento, no futuro podem aparecer patologias graves decorrentes ao Covid em pessoas assintomáticas. Por isso nosso corpo reage provocando trombose ou até mesmo coágulos no cérebro algum tempo depois. Sendo assim, além de ser um transmissor, o assintomático pode se tornar uma vítima fatal do Covid sem sequer ter um dos sintomas comuns. Há um limite, e ele precisa ser respeitado. Fracassamos quando batemos no peito e dizemos que somos privilegiados.
Fracassamos porque somos ignorantes. A ignorância é a via mais pavimentada para a disseminação do vírus. Entendam uma coisa: a ignorância não é uma imposição onde o ignorante é uma vítima da falta de informação. Não! Com tanto acesso a informação, a ignorância passa a ser uma opção mesmo. O não saber não faz de nós isentos de culpa, muito pelo contrário, nos torna vilões nessa história. A ignorância mata, a ignorância fere, a ignorância traz confusão... O mal intencionado encontra no ignorante o seu par perfeito, é uma relação perfeitamente maligna. O mal intencionado diz: "Não use máscara! Ela causa sérios problemas respiratórios.", e o ignorante reproduz isso pra outros ignorantes. O mal intencionado diz: "não tome vacina, ela causa câncer, HIV e outras doenças." e o ignorante compartilha pra quantas pessoas puder nas redes sociais. O mal intencionado diz: "não acredite na ciência, há um plano maligno para matar a população em massa." e o ignorante passa isso adiante com uma "autoridade" impressionante. O mal intencionado diz: "não fique em isolamento, as pessoas morrem mais isoladas do que expostas." e, pra finalizar, o ignorante espalha isso e ainda pratica. A ignorância mata! O ignorante de tão ignorante que é, se acha mais inteligente que todo mundo. O Evangelho nunca foi na contramão da prudência e a fé nunca foi inimiga do conhecimento. Fracassamos porque escolhemos ficar do lado da ignorância. Não somos vítimas.
Fracassamos porque perdemos a empatia pelos que se foram. No início, quando tudo era uma cruel realidade, muitos sentiam o pesar pelas vidas levadas pelo Covid (embora outros nem isso), mas ao passar do tempo e do número de vítimas, cada pessoa morta por Covid passou a ser mais um pra estatística. Estou lendo uma reportagem nesse exato momento que uma Rave (um tipo de evento/festa) com o nome de "Epidemia" para mais de 1.500 pessoas no interior de São Paulo foi impedida pela fiscalização local (https://g1.globo.com/google/amp/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2020/12/26/fiscalizacao-impede-rave-clandestina-com-centenas-na-zona-sul-de-ribeirao-preto-sp.ghtml?__twitter_impression=true). Não preciso dizer mais nada, não é? Quem em sã consciência no meio de uma pandemia que ceifou quase 200.000 pessoas faria um evento para 1.500 pessoas, ainda por cima com o nome de "Epidemia"? Isso é possível. Sabe por que? Porque não nos preocupamos com a nossa vida, com a vida do próximo e não temos um pingo de empatia por aqueles que se foram ou estão há dias em um leito de UTI, porque fracassamos. Tão difícil quanto reanimar a saúde de alguém em estado gravíssimo por Covid é reanimar o coração de pedra de uma geração bonita por fora, mas morta por dentro.
Fracassamos naquilo que chamamos de amor. Não temos a menor ideia do que significa amar. O vírus é um grande insentivo à prática do amor ou um grande desmascarador das nossas vergonhas. O vírus procura um lugar para habitar e esse lugar é o nosso organismo. Uma vez habitando, nós temos parte com ele nos tornamos uma espécie de vírus ambulantes. Então, além de objetos passivos nesse processo, nós somos objetos ativos. Recebemos e transmitimos. Ou seja, passamos facilmente de vítimas para agentes do mal. Isso é claro para todos. É falado todos os dias há quase um ano em verso e prosa na mídia, nas rodinhas de amigos e nas redes sociais. Não é surpresa pra ninguém. E o que deveríamos fazer nessa realidade? Nos amar (nos protegendo do vírus) e amar o próximo (respeitando todos os protocolos, pois posso ser um transmissor e não sei). Fracassamos em ambas as expressões de amor. Ficou claro que não nos amamos, porque não levamos a sério um vírus que pode nos matar. E muito menos amamos o próximo, porque colocamos a vida de outras pessoas em risco por causa do nosso egoísmo e irresponsabilidade. Jesus estava certo sobre o amor esfriar. O ano de 2020 foi uma aula prática sobre isso. Não amamos ninguém, nem a nós mesmo. Fracassamos!
Onde está Deus? Deve ser a pergunta mais comum dessa pandemia. Muitos não sabem responder essa pergunta e outros a respondem de uma forma superficial como se tivessem uma fé que na verdade nem tem. Mas Deus não é a tese desse teste. Não é sobre Deus, é sobre nós. Onde está o homem? Essa pergunta não é difícil de responder. Está na Terra, cada vez mais egoísta, cada vez mais fracassado. E engana-se quem pensa que o egoísta ama a si mesmo de forma exagerada. O egoísta ama o prazer de maneira exagerada. Podemos chamar de edonista, é um nome mais adequado para isso. Porque o que o homem demostrou nessa pandemia passou longe de um amor por si mesmo exagerado, mas um amor pelo prazer. Por isso deu um jeito de sair, beber, festejar, ir à igreja, etc. Se o egoísmo fosse amor por si, o homem ao menos se preocuparia com sigo e com a sua vida, mas não. Que dirá com próximo.
Fracassamos na nossa incapacidade de aprender. E quantos ensinamentos essa pandemia está nos trazendo. Mas somos maus alunos. Podíamos aprender que o afeto, o contato e a relação humana é importante. A era digital nos distanciou, embora nos aproximasse virtualmente. Por que reclamamos tanto do isolamento se essa geração é expert em se isolar? Poderíamos ter aprendido sobre o valor das coisas. Supervalorizamos coisas que não tem tanto valor e subvalorizamos coisas que tem um valor imensurável. O dinheiro, o poder, a fama não impediram que muito fossem entubados por dias em UTI's e tantos outros outros viessem a óbito. Essas pessoas trocariam tudo isso por um cafezinho e um pãozinho quente com suas famílias na mesa do café da manhã.
Todos esses nossos fracassos na pandemia só refletem o que espiritualmente temos sido ao longo dos anos. O tempo esfriou a nossa espectativa pela volta de Jesus, com isso passamos a agir como todo mundo para nos sentimos inseridos. Como humanos não reconhecemos que precisamos de um Salvador e que a morte é mais forte que nós. Em busca pelo prazer, deixamos de lado o maior dos mandamentos, o amor. Não amamos a nós mesmos e muito menos ao próximo. A pandemia só vira o holofote em nossa direção para mostrar a nossa nudez, que não vem de hoje. Precisamos de ajuda. Precisamos reconhecer nosso fracasso e nos entregarmos a Deus. Só Ele pode nos fazer vendedores, ou melhor, mais que vencedores. E não estou falando de vencer somente o Covid-19, mas vencer a nós mesmos.
Perdoa-nos, Senhor!
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