terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Fardos Desnecessários - Não Se Culpe Tanto

Dando continuidade a nossa série de textos com o tema "Fardos Desnecessários " (leia o texto anterior "Fardos Desnecessários - Desconfiança de Deus"), hoje vamos falar sobre o fardo da culpa. Segundo o dicionário,  culpa é a "responsabilidade por uma ação que ocasiona dano ou prejuízo a outra pessoa.". Essa é a definição básica de culpa.

Mas esse sentimento de culpa é objeto de estudo há séculos e está presente fortemente na psicanálise, por exemplo, nas obras de Freud. Segundo Freud, 

"o sentimento de culpa que está encontrando sua satisfação na doença se recusa a abandonar a punição do sofrimento (...) Portanto, falar de sentimento inconsciente de culpa significa dizer que o representante psíquico original da culpa foi recalcado. ".

A filosofia também não ficaria de fora dessa profunda análise desse sentimento de culpa comum a todos. Em Nietzsche, "o conceito essencial da culpa tem sua origem na ideia material de dívida . Culpa é dívida; seja finita ou infinita - eterna, - como a que alicerça os dogmas judaico-cristãos. Já o castigo, enquanto represália, se desenvolveu independentemente de toda a hipótese de livre-arbítrio e de obrigação". 

Trazendo para um entendimento mais comum, entendemos que o sentimento de culpa é um sentimento comum a todos,  mas que precisa ser compreendido para não se tornar uma doença. Culpar-se de menos ou culpar-se demais podem ser sintomas perigosos de que as coisas não andam muito dentro de nossa mente. Se eu nao molho a planta eu a mato de sede, porém se eu a encharco eu a mato pelo excesso. As duas formas matam a planta. 

Se eu vivo uma vida totalmente desprovida de culpa, ou seja, sentimento de arrependimento proveniente de um ato prejudicial nosso, eu voltarei a praticar os mesmos atos e machucarei muita gente. Porém - sobre isso que eu quero falar mais profundamente hoje - , se eu vivo me sentindo culpado por tudo, esse sentimento pode matar a minha autoestima, desfigurar a minha imagem de mim mesmo, fazendo com que eu me sinta um réu o tempo todo.

Freud e Nietzsche concordam que boa parte desse sentimento excessivo de culpa vêm da nossa cultura Judaico-Cristã. De certo ponto eles estão cobertos de razão, porém não confunda cultura Judaico-Cristã  com Evangelho.  Embora a nossa cultura seja baseada nas Escrituras, isso está mais relacionado com a religião,  ou seja, aquilo que o homem faz com a Palavra de Deus, com o que a própria Palavra de Deus ensina. 

Religião produz esse sentimento de culpa constante no homem, tornando Deus,  que tem prazer no perdão e na misericórdia, em um tirano que tem prazer na punição e correção.  Se relacionar com esse "deus", é evidente,  gera um constante e excessivo sentimento de culpa. A religião faz da culpa um fardo, um fardo desnecessário. 

A começar pela igreja Católica ao longo da história, que incentivava a prática de autoflagelação em padres para controlarem seus desejos sexuais. Julgavam pessoas em praça pública e ateavam fogo em bruxas. Também usam de confissão de pecados e penitências.  Sim, isso gera culpa, isso gera fardo. 

A igreja evangélica ainda consegue superar isso, com uma lista enorme de "pode e não pode". "Não pode ouvir música 'do mundo', não pode usar calça,  não pode ver televisão,  não pode passar maquiagem, não pode beber, não pode dançar. ". Pra ser cristão tem que jejuar, ir à vigílias, montes, falar o 'linguajar evangélico', etc.  Tudo isso gera culpa, culpa e mais culpa. Assim temos uma geração cristã que, por tanto se culpar, não salga, mas dissemina culpa no mundo. Nossa mensagem deveria ser: "ei, não se culpe tanto, Jesus pagou pela sua culpa.", mas falamos: "faça isso e aquilo outro pra, quem sabe, Deus te aceitar." Deus não está interessado em gente com medo do inferno ou da Sua ira, mas em gente que entendeu o Amor de Deus e o ama deliberadamentede volta.  Deus nos promete trocar nossa fardo desnecessário da culpa pelo seu leve fardo leve do perdão .

Por que um fardo desnecessário?  Porque o próprio Evangelho do Reino de Deus nos conduz a uma vida longe da culpa. O Evangelho é o remédio mais eficaz contra a culpa. Enquanto uns cristãos preferem se martirizarem pelo seus pecados, outros levam a sério o que está escrito em Romanos 8:33 e 34: "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou aantes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.". Aí entra aquela máxima: "mas você não sabe o que eu fiz, não tem ideia da gravidade do meu pecado.". Pois bem, se eu soubesse de repente te olharia com outros olhos, os mesmo como que você se olha hoje, mas graças a Deus não é sobre o que eu acho do seu pecado, nem o que você acha e como você age depois dele, mas é sobre o que Deus acha e como ele age diante dele. A Palavra nos assegura perdão, então aceite e siga em paz, sem culpas, sem fardo.  

Ei! Quem te deu o direito de se culpar tanto? Você não vê que Cristo levou sobre si às suas culpas? Tente não se culpar tanto, você verá que Deus não te abandonará,  porque você está valorizando o seu sacrifício na cruz. Ele não morreu para você viver carregando essa montanha nas costas. Se tem alguém te observando e te apondando na cara cada pecado seu, saiba que não é Deus,  não o Deus do Evangelho.  Quem faz isso é o diabo, então,  se você se prostra diante da culpa, sabia diante de quem você está se prostrando.

Deus te abençoe! 


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