"têm pés, mas não caminham" (Salmo 115:7)
Esta é a última característica dos ídolos feitos em imagens de escultura: terem pés e não andarem. Como em todas as outras características citadas nessa série de textos, a imagem de escultura visivelmente têm todas as características humanas, mas não pode fazer nada, porque não passa de pedra, barro ou qualquer outro material. Mas, estranhamente, notamos no ser humano, que têm e pode utilizar de todas essas características, a recusa de utilizá-las. Portanto, têm olhos, mas se recusam a ver; têm ouvidos, mas se recusam a ouvir; têm boca, mas se recusam a falar/transmitir; têm mãos, mas se recusam a tocar/sentir; têm nariz, mas se recusam a cheirar; e, têm pés, mas se recusam a caminhar (leiam os textos anteriores). É uma geração de humanos com graves problemas de saturação cognitiva, ou seja, quando as nossas características básicas, que nos fazem humanos, são petrificadas.
E é bom ressaltar que esse estado, embora muitas das vezes físico, está mais relacionado com o nosso comportamento emocional e espiritual do que propriamente físico. Isto é, existem pessoas no nosso meio que fisicamente não podem falar, ver, ouvir, cheirar, sentir e a caminhar. Entretanto, "falam, vêem, ouvem, cheiram, sentem e caminham" muito mais do que pessoas sãs fisicamente. Vocês podem compreender isso? Não é uma questão física, é de essência, é espiritual.
Diferente das imagens de escultura, nós temos a capacidade de agir e reagir. A ação é fundamental na vida humana, pois quando se vive uma vida inerte a gente não evolui. O mundo não aceita os inertes. Em sua seleção natural, a humanidade rejeita quem não produz. Seja no mercado de trabalho, na vida acadêmica, num relacionamento amoroso ou num time de futebol, o inerte não resiste. Ele é engolido pelos que agem, pelos que se movem. Tornam-se não somente desprezíveis, mas, sobretudo, um obstáculo. Imagine você querendo chegar a algum lugar e aqueles que estão contigo simplesmente estacionam na sua frente. Você tem duas opções: você os tira de lá ou você para junto com eles. Sabemos que não é tão simples assim, mas se a inércia parece irreversível, é melhor optar pela primeira opção. Senão o inerte pode ser você agora. Como dizem por aí, a preguiça e o conformismo só vem antes do sucesso no dicionário.
Mas esse não é um assunto pra te motivar a ser uma pessoa ativa e bem sucedida nesse mundo competitivo somente. Não, não...esse é um assunto extremamente espiritual também. A Bíblia nos mostra de gênesis a apocalispe atitudes que moveram o mundo. A começar pelo próprio Deus na criação do mundo em seus "Haja!". Certa vez Jesus disse aos judeus que o questionavam sobre uma cura no sábado: "Meu Pai continua trabalhando até agora, e eu também estou trabalhando." (João 5:17). Da mesma forma o homem teve que desde sempre cultivar o jardim, pois Deus nos criou para a ação.
Não existe benefício algum no mundo espiritual para o inerte. Por isso, Jesus faz questão de ver duas atitudes básicas em seus seguidores: Vinde e Ide. Não existe vida com Deus sem essas duas ações. Jesus diz em primeiro lugar: "Vinde a mim todos os que estais cansados de carregar suas pesadas cargas, e eu vos darei descanso." (Mateus 11:28). Jesus está disposto a nos receber e aliviar nossa bagagem, mas a ação parte de nós. Podemos ficar comovidos com o convite e até mesmo gratos, mas se não formos diante dele e não depositamos nossas cargas, nada acontecerá. O inerte pode ser a pessoa mais emotiva e grata do mundo que vai continuar sendo um inerte. Em segundo lugar Jesus diz: "Portanto, ide e fazei com que todos os povos da Terra se tornem discípulos, batozando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo." (Mateus 28:19). Jesus não abre mão de discipulos ativos. Para que outros conheçam o amor de Deus, Ele nos enviou para fazer esse anúncio. Não existe inércia no Reino de Deus. Ele nos chama, nós vamos. Ele nos envia, nós vamos. Imagens de escultura têm pés, mas não caminham, porque não podem. Nós temos a capacidade de agir e não agimos, nos tornando como tais imagens.
Mas existe uma relação ainda mais estreita com Deus do que cumprir o "vinde" e o "ide". Esse relação se baseia no movimento que fazemos em direção ao próximo. Deus é experimentado por nós quando nos movemos em direção ao outro. Se o foco do evangelho somos nós mesmos, somos tão inertes quanto uma imagem de escultura. Podemos até correr no mundo em busca das nossas realizações, mas no Reino de Deus não saímos do lugar.
Jesus se define como o "Eu Sou o caminho". Se ele é o caminho, nós devemos andar Nele. E só andaremos nele, se formos como Ele. Então, se estamos em Cristo, estamos caminhando Nele. Se estamos parados, não percorremos o caminho e não estamos Nele. Evangelho é trilhar o caminho que é Cristo. Evangelho é movimento, e qualquer coisa que se assemelhe a inércia, não tem nada a ver com Cristo.
Jesus curou algumas pessoas com limitações de locomoção. Esses não podiam se mover mesmo. Queriam se mover, mas não podiam. Vocês conhecem a história do homem que Jesus curou no tanque de Betesda, ele foi enfermo por 38 anos, segundo João 5. Jesus se compadeceu daquele homem porque, além do seu estado, ele se queixava que ninguém o colocava no tanque para ser curado. É como se ele dissesse: "Eu queria ter pelo menos um pouco de capacidade de me lançar naquele tanque, mas eu não tenho. Eu preciso que alguém são me coloque lá, mas eles não querem". Ali havia uma queixa de um inerte por condição sobre outros inertes por opção. Por isso Jesus se compareceu. Ninguém ali naquela multidão se compareceu daquele homem, nem os enfermos que podiam se locomover e nem os acompanhantes. É duro contar com inertes quando se precisa de ajuda, eles simplesmente te ignoram. Certamente, entre os enfermos, havia quem podia ajudar, mesmo com suas limitações. Alguns podem até ter pensado em ajudar, mas a sua própria cura era mais importante.
Todos nós nos colocamos diante do tanque em algum momento da nossa vida. Nos movemos em direção a cura ou a solução do nosso problema, mas esquecemos que nesse mesmo tanque existem outras pessoas piores que nós, que poderiam ser acudidas por nós. Para isso, somos mais inertes que elas. Quando a ação só beneficia a nós mesmos, enquanto outros dependem da nossa ajuda, a ação é vã e é mais imóvel que uma montanha. Ali Jesus ensina que o inerte não era aquele homem, mas aqueles que podiam ajudar e não ajudaram. Com isso, aprendemos que mesmo doentes e limitados, sempre podemos contribuir de alguma forma. Quando a nossa limitação nos faz olhar só pra ela e nada mais, ela nos paralisa. Não há limitação permitida por Deus em nossas vidas que nos farão parar. Sempre haverá um alvo para a nossa ação.
Para Jesus existem dois tipos de pessoas somente: aqueles que no dia do juízo ouvirão "Vinde benditos de meu Pai" e os que ouvirão "apartai-vos de mim porque eu não vos conheço". O mesmo Jesus que diz "vinde", diz "apartai-vos". Depende do tipo de ser humano que está diante dele. E Mateus 25 explica exatamente qual a diferença entre esses dois tipos de gente:
"E quando o filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dEle, e apartará uns doa outros, como o pastor aparta as ovelhas doa bodes; E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos qur tiverem à sua direita: 'Vinde benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e deste-me de comer; tive sede, e deste-me de beber; era estrangeiro, e hospedaste-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitaste-me; estive na prisão, e foste me ver'. Então os justos lhe responderão, dizendo: 'Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?' E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando fizerdes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes'. Então dirá também aos que estivem à sua esquerda: 'Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enferno, e na prisão, não me visitastes.' Então eles também lhe responderão, dizendo: 'Senhor, quando te vimos com fome
, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?'. Então lhes responderá, dizendo: 'Em verdade vos digo que, quando um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim'. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna."
(Mateus 25: 31 - 46)
Jesus fala nesse texto de ação e inércia. Aqueles que fizeram e aqueles que não fizeram. Aqueles que podiam ajudar e ajudaram e aqueles que podiam ajudar e não ajudaram. Eis aí o evangelho, meus irmãos. Eis aí o teu chamado. A qual grupo você quer pertencer? Aqueles que se movem em direção ao próximo, ou aqueles inertes, que vivem para si? Bom, a posição do Senhor é bem clara para ambos. Uns benditos, outros malditos. Não há meio termo e nem justificativa. O inerte não é bem vindo no Reino do Rei dos Reis. Ter pés e não caminhar, não só te assemelham com imagens de escultura, mas te faz um inimigo de Deus, que tem como destino o mesmo que o Senhor reservou para o diabo e seus anjos. O Reino de Deus é para quem se move, e quem se move em direção ao próximo. Porque quem se move em direção ao próximo, encontra o Senhor.
Que Deus te abençoe!
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