segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Levanta-se e Ande!






"Então Jesus lhe disse: 'Levanta-se! Pegue a sua maca e ande.'" (João 5:8)

"Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo." (João 16:33)


Eu acredito que há sempre dois comandos de Deus para todos nós assim que acordamos: um é "levanta-se e ande!"  e o outro é "tende bom ânimo!". Aqueles que acreditam que Deus nos levará no colo, não gostam muito dessas expressões, porque conota uma ação a partir de nós. Lendo a Palavra com atenção nós percebemos um Deus poderoso que pode fazer tudo por nós, no entanto, na maioria das vezes, ao invés de recebermos o que pedimos, ouvimos um sonoro "tende bom ânimo!".

Não é de hoje que a cultura do "só vitória" tem adoecido a igreja. O desejo de que Deus vai fazer alguma coisa por nós, nos faz esquecer do que já está feito. Nós entendemos que a função de Deus em nossa vida é resolver nossos problemas e tornar a nossa vida mais leve até que Ele venha. Entendemos errado! Nem sempre Deus resolverá nossos problemas. Sabe por quê? Porque Ele já resolveu o que precisava ser resolvido na cruz. 

Éramos como aquele homem que esperou a vida toda por uma cura, crendo que a água de um tanque poderia curá-lo (versículo no topo). Jesus veio e o curou a beira do tanque. Nós parecemos muito com ele. Usando a condição do homem como uma alegoria, entendemos que o pecado nos colocava numa situação a margem de Deus e, desde então, buscávamos a nossa "cura" em qualquer água que se movesse. Jesus veio e nos curou de vez. Nos curou da morte, da culpa, da condenação, da sentença de morte que estava escrita para nós... E agora? Voltemos ao tanque? Jamais. Mas não é o que acontece. Mesmo curados, nós voltamos ao tanque. Só que fazemos de Jesus esse tanque. Esperamos algum anjo vir e mover as águas toda vez que nos sentimos em apuros. Nos viciamos no mover das águas. É um ciclo vicioso. Se não há mover, não há Deus. E vivemos de mover em mover achando que a vida cristã é assim mesmo. É como se alguém curado de um câncer não largasse a quimioterapia. Como se um pássaro com a gaiola aberta não se achasse capaz de voar. Ou então, como se o amor que você esperou a vida toda te quisesse e você não o aceitasse. Por isso, Jesus disse a ele: "Levanta-se e ande!". É como se ele dissesse: "Agora é com você, meu filho. O que eu tinha que fazer, eu já fiz.". Você entende isso? 

Além da ordem de Jesus para levantar e andar, há um detalhe fundamental nesse ensinamento: Jesus ordenou que o homem tomasse a maca (cama) consigo. Ele foi curado, mas o símbolo de toda a sua aflição o acompanhou. Isso nos faz lembrar que, embora curados, as aflições seguem conosco nessa vida. Talvez sirvam pra nos lembrar que não somos autossuficientes, assim como o espinho na carne de Paulo. Paulo também ouviu uma espécie de "levanta e anda" com outras palavras. Paulo ouviu um "a minha graça te basta" (2 Cor 12:9). Que palavra maravilhosa! O mesmo Paulo que nos trouxe palavras de encorajamento e de vitória, que disse que a "morte é lucro" (Fp 1:21) e que "ninguém nos separará do amor de Cristo" (Rm 8:35), carregou sua maca e andou por toda a sua existência. A graça salvadora do nosso Senhor é mais que suficiente, o resto é só a maca. Estamos salvos, o mundo já foi vencido, mas o espinho está lá, a maca vai conosco. Glória a Deus por isso!

É fácil viver nessa dimensão de entendimento? Não! Jesus sabe que não. Embora já esteja consumado (João 19:30), Jesus concorda conosco e diz que no mundo teríamos aflições. E o que é estar aflito? É sangrar, é penar, é se chatear, é ser traído, é machucar alguém, é querer e não conseguir, é se envergonhar, é a doença incurável, é ter crise de ansiedade, é ter crise conjugal, é ver os filhos trilhando caminhos errados, é pecar, é estar inconformado com a cegueira de muitos, é querer sumir..., mas existem dois tipos de pessoas no nosso meio: aqueles que seguem o conselho de Jesus, têm bom ânimo, levantam e andam no meio da aflição, porque sabem que nossa vitória eterna está consumada. E aqueles que acham que é preciso voltar ao tanque em busca de um mover para que a vida tenha sentido. 

Se tivéssemos um deus hipócrita, talvez ele nos culpasse por desanimar, visto que a vitória já foi decretada na cruz. Mas o nosso Deus é bondoso e entende a nossa condição humana. Ele é mais que um resolvedor de problemas pontuais, Ele é um motivador. Ele nos lembra sempre que, não importa a situação que passamos, a vitória final já está garantida. É como se o filme já tivesse acabado com o final feliz, só que na nossa dimensão ele ainda esteja acontecendo. Deus já sabe o final, Ele já nos contou, inclusive. Só nos basta ter ânimo, levantarmo-nos e continuarmos andando. 

Vocês sabem qual é a cura da aflição? Jesus diz logo após afirmar que teríamos aflições: "(...)Eu venci o mundo.". A cura da aflição não é a ausência de problemas, mas o bom ânimo proveniente da certeza do já foi feito. Não é um bom ânimo do nada, da palavra positiva, da declaração profética, da criação de um mundo paralelo para fugir da realidade. Nada disso! É um ânimo vindo da certeza de que Ele venceu o que precisava ser vencido, a saber: o mundo. E o mundo significa tudo que nos causa aflição. Usamos muito a ação de Deus no futuro: "Deus fará". Meu irmão, Deus já fez. O dia que entendermos isso, os nossos "bichos" não serão tão feios assim. A verdadeira fé não é se Deus fará aquilo que precisamos, mas é crer que Ele já fez o que precisava ser feito. Está feito mesmo! Não importa o nome da sua aflição nesta vida, a eternidade já está garantida e nada é mais importante que isso. Aquilo que você buscava a beira do tanque já veio. Então saia daí! Parar nunca foi uma opção. Levanta-se e ande, em nome de Jesus!

Que Deus te abençoe.




quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Em Busca da Autenticidade Perdida

Vocês já pararam para pensar que só existe um de nós na história da humanidade? Jamais haverá outro você. Já passou uma quantidade incontável de pessoas por esse mundo, mas você só existe um. Agora imagine a história da humanidade como um imenso filme. Qual seria o seu papel nele? Qual a sua relevância nessa história? O que falarão de você quando sair de cena? Você deixará saudades ou deixará alívio? Ou, quem sabe, você sequer será lembrado? Nós, cristãos, sabemos muito bem que a nossa existência tem um propósito. Não estamos aqui a passeio. Mas, as vezes, esquecemos disso e vivemos carregando um fardo que chamamos de vida. Viver tem sido um grande sacrifício para cada um de nós. Mas será que o nosso propósito é sobreviver somente ao invés de desfrutarmos da oportunidade de atuarmos nesse imenso filme com alguma relevância?

Ultimamente tenho retornado com frequência ao passado. Não que eu queira, mas Deus tem me conduzido a momentos da minha vida que, de alguma forma, ficaram mal resolvidos. Confesso que não sei explicar, mas o que eu posso dizer é que essa regressão tem me feito ver o quanto o meu presente é falho. E a maior falha que podemos cometer é não sermos de fato aquilo que verdadeiramente somos. Ao ver meu passado e compará-lo com o meu presente, percebi que alguma coisa em mim ficou para trás. Nos esforçamos demais para parecer ser aquilo que querem que sejamos, que terminamos deixando para trás aquilo que na verdade somos, a nossa autenticidade. 

É esse ser autêntico que Deus escalou para o filme da humanidade. Porém, no meio do processo, nos achamos no direito de reescrever o roteiro. Nos apropriamos de características e personalidades que nunca foram nossas para nos adequarmos ao mundo que nos cerca. E assim, carregamos um fardo completamente desnecessário. Dá um trabalho danado não ser o que se é. E quando percebemos que esse fenômeno acontece? Quando a vida se torna um peso quase que insuportável.

Nós precisamos uns dos outros para percorrer a jornada da vida, mas mesmo que não haja ninguém do nosso lado, a nossa autenticidade será suficiente. Quando somos autênticos, nos tornamos a nossa melhor companhia. Mas, quando nos tornamos um personagem de nós mesmos, nos momentos mais difíceis é que percebemos o quanto é insuportável conviver conosco. Contudo, entenda, você não se odeia, você odeia a caricatura que criou de si mesmo. Nenhum personagem criado por nós se compara ao que Deus planejou para sermos. 

Deus se relaciona com esse ser autêntico. Porém, se você trocou seu verdadeiro eu por um personagem, infelizmente, não haverá Deus nessa jornada. Isso explica muito a nossa decepção com Deus. Queremos que Deus se relacione com o que nos tornamos e chagamos a achar que Ele se esqueceu de nós. Tudo o que ouvimos é um eterno silêncio, porque Deus não tem parte com personagem algum. Deus tem ligação direta com o nosso eu de verdade. Foi esse que Ele arquitetou, assim como arquitetou o sol, o mar, os animais e toda a criação. Tudo tem um propósito, por que você não teria?

A maior conversão que o ser humano pode experimentar é a conversão para si mesmo. É o retorno para o seu verdadeiro eu. Aquele que foi criado e planejado por Deus, para louvor e glória do Seu Santo Nome. Não importa o que pensam sobre você, nunca viva para agradar as pessoas. Isso acarreta no nosso maior drama: de deixar de ser o que na verdade somos. Deus te fez uma pessoa com o senso de humor apurado, então por que você se tornou essa pessoa mau humorada? Deus te planejou como alguém que arranca sorrisos espontâneos das pessoas por onde você passa, então por que as pessoas mudam os seus semblantes quando você chega? O que te adoeceu? O que te fez vestir esse vilão da história? Não, esse não é você. Lembra como você era romântico? Mas, agora, por causa de muitas desilusões, você escolheu ser frio. Afinal de contas, quem não ama nunca sofrerá por amor. E você acreditou nisso, não é? Saia dessa, essa não é você. Por que você se tornou esse militante de sabe-se lá o que? Você brigou com a sua família e amigos. Perdeu a admiração por pessoas que você tanto se espelhava. Por que? Você sabe que algo dentro de você te faz essas perguntas. Sabe quem é? É o seu verdadeiro eu. Ele está dentro de você acuado, trancado em uma masmorra do seu ser, ofuscado pelo personagem sem graça que você se tornou. Caia fora disso. Personagens não existem. É como se existissem, mas são meras criações caricatas. O seu ser autêntico é muito mais interessante que isso. 

A autenticidade não é confundida. Todos saberão quem é você. Você passará a verdade por onde quer que for. Não se importe com essas vozes na sua cabeça que te mandam mudar o tempo todo. Mudar pra quem? Mudar pra que? Seja você! Pague o preço por ser você! As pessoas vão te amar pelo que você é e, o melhor, você se amará e encontrará lugar nesse imenso e lindo filme que Deus escreveu para a humanidade.

Aqui eu deixo um trecho de uma canção de Caetano, cantado por Gal, que nos deixou essa semana:

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."

Que Deus te abençoe. 


quinta-feira, 14 de julho de 2022

Maus Amados - Cidadãos de Bem?


Se tem um título que o cristão gosta de ser denominado é: Cidadão de Bem. Nós realmente acreditamos nisso. Quantas vezes batemos no peito mediante a alguma acusação ou mediante a um ato que julgamos ser justo e dizemos: "pera lá, eu sou um cidadão de bem!", ou então: "na minha casa não entra esse tipo de gente, aqui nós somos cidadãos de bem!". Se você leu a Bíblia com atenção e se viu nela como mau, a expressão "cidadão de bem" deveria causar uma certa estranheza aos seus ouvidos. 

Eu queria te falar algo mais doce, mas não foi isso que Deus mandou. A igreja de Cristo não é feita por "cidadãos de bem", mas por pessoas más, porém amadas, arrependidas e submissas ao Deus que é de bem. Só Ele é bom. Aliás, Deus não divide a glória dele com ninguém. E o que a glória tem a ver com a bondade? Tudo! A glória do Senhor não está só no seu poder, na sua criação ou na sua santidade. A sua glória está, sobretudo, na sua bondade. O próprio Deus disse isso:

"Então disse Moises: 'Peço-te que me mostres a sua glória'. E Deus respondeu: 'Diante de ti farei passar toda a minha BONDADE'". (Êxodo 33:18 e 19a)

Moisés queria ver a glória de Deus e Deus revelou à sua bondade. Pode parecer bonitinho querer ser visto como bom pelos outros, mas agindo assim podemos estar tomando posse de uma glória que não é nossa. A nossa beleza está na nossa humaninade. Nós ansiamos pela glória de Deus, Deus anseia pela nossa mais simples humanidade. Então, seremos praticamentes da maldade? Em hipótese alguma. A Palavra nos diz para fugirmos da aparência do mal. Então, fugindo da aparência do mau seremos cidadãos de bem? Não, continuaremos maus, porém com nojo e vergonha da nossa maldade. 

Intitular-se "cidadão de bem", nos coloca numa posição perigosa. Porque, geralmente quem se auto denomina assim, se considera realmente uma pessoa boa e, consequentemente, melhor que tantos outros. Pode parecer nada demais, mas a ideia de ser um cidadão de bem nos coloca num patamar que não nos pertence. Somos cidadãos maus, todos. Paulo é muito claro quanto a isso: "Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". (Romanos 3:23). Somos maus, porém amados. Então, somos cidadãos conscientes da nossa maldade e gratos por conhecermos a bondade do único que é bom.

Um lugar onde isso fica ainda mais evidente é na igreja. Ou melhor, na religião. Os adeptos tendem a se achar pessoas de bem. Não sei vocês, mas quando eu era novo convertido, eu tinha a ideia de que todos, ou a maioria que estavam ali, eram pessoas irrepreensíveis. Com isso, cada deslize que eu cometia me fazia me sentir indigno de estar ali com aquelas pessoas de bem. Essa ideia não é necessariamente exposta ou ensinada, mas o meio nos faz ver assim. É um status que as pessoas gostam de gozar. Porém, não só a minha, mas a realidade de muitos ali era de cometer deslizes. Afinal de contas, é uma assembléia de maus, amados, mas maus. Por isso, o pecado não deveria ser nenhum escândalo. Não é verdade? Mas gostamos, mesmo que sem percebermos, de carregar conosco essa aparência de bondade.  Mal sabemos que esse tiro sempre sai pela culatra. Se o nosso pecado não é exposto e julgado pelos outros, nossa consciências se trata de julgar e nos lembrar que nós somos maus. E por que a nossa maldade é um tabu, visto que não é um privilégio de alguns? É porque o nosso ego nos faz acreditar que nos tornamos "cidadãos de bem" e como tais, não podemos expor nossa maldade. 

Engana-se quem pensa que o diabo está em atos macabros como nos filmes. O diabo pode muito bem estar irraizado na nossa cultura cristã, onde nos intitulados "cidadãos de bem" e gozamos desse status indevidamente. Aliás, o diabo não quer que nos sintamos maus, mas ele faz de tudo para fazer você se sentir o melhor, a pessoa de bem, que pode usar-se como régua para medir o padrão de uma sociedade. 

Desculpe se eu te frustrei com isso, mas a metanóia (mudança de mente) acontece na dor do conflito com os nossos padrões culturais demoníacos, travestidos de divinos. Seja humano, seja você e encontre-se Naquele que tem na sua bondade a sua glória. 

Que Deus te abençoe!

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Maus Amados - Inaptos, Graças a Deus!


Eu admiro muito a história de Pedro. Talvez seja pela humanidade dele, que me traz uma familiaridade muito grande. Tenho muita dificuldade de me ver em gente boa demais, perfeita demais, santa demais. Me incomoda gente que nunca erra, nunca enfia os pés pelas mãos ou que nunca perde o controle. De repente seja porque essas pessoas não existam de verdade. E as que julgam serem assim ou tentam parecer assim, vivem um personagem que se distancia da humanidade nua e crua. Não somos contemporâneos de Pedro, mas parece que o conhecemos de longa data, porque a humanidade refletida em Pedro gera em nós essa identificação imediata. Pedro era gente como a gente, mau toda vida, porém amado por Deus.

Pedro sabia que era mau e isso fez com que Jesus o chamasse para perto de si. Vocês lendo os evangelhos, conseguem perceber o cuidado de Jesus com Pedro? Eu amo a cena da "Pesca Maravilhosa" (como os escritores da Bíblia chamam), está lá em Lucas 5: 1-11. Vocês conhecem a história: depois de aluns discípulos passarem a noite inteira pescando (ou tentando), nada pegaram. Porém, quando já recolhiam as redes frustrados, Jesus os mandou jogar as redes novamente e elas voltaram com tanto peixe que tiveram que chamar outros barcos para ajudarem a pegar. 

Só o milagre em si ja é grandioso demais, mas ali Jesus não estava ensinando somente sobre ele abençoa o nosso trabalho e nos dar recursos em abundância. Não, esse não foi o maior milagre ali. O maior milagre aconteceu após isso: "E, vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, por que sou um homem pecador." (v.8). Muitos dizem que ali Pedro teve um encontro com Jesus, mas, na verdade, Pedro teve um encontro consigo mesmo através de Jesus. E a imagem que Ele teve de si não era nada boa, Pedro se viu mau. 

Quando encontramos de fato com Jesus na nossa trajetória, a tendência é nos depararmos com a nossa maldade e nos sentirmos indignos diante Dele. Quando isso não ocorre, é porque não encontramos com Ele ainda. Porque o brilho da glória Dele nos deixa nus diante nos nossos próprios olhos. É como se a nossa verdade fosse revelada a nós mesmos. Pedro não quer mais saber de Jesus, sua humanidade não permite. Há um conflito ali: um homem mau diante de um Deus bom. Isso ficou muito claro para Pedro. 

Mas Pedro era um homem mau, porém amado, como você. Você se reconhece mau?Ver-se mau é a porta de entrada para algo bem maior. O que faz do cristão diferente diferente dos não cristãos é a plena convicção da nossa maldade. Porém, parece que não entendemos muito bem isso e quando nos convertemos, a primeira coisa que fazemos é nos afastar daqueles que não são "puros" como nós. E entramos nessa vereda da santidade, que, ao invés de nos humanizar, nos torna ridículos, como que se pudéssemos nos "divinizar". A partir daí, nos tornamos intolerantes, falsos moralistas e insuportáveis.

O meio cristão/religioso/evangélico é um meio com um potencial absurdamente tóxico. Condenam a nossa roupa, a música que ouvimos, em quem votamos (ou não votamos), com quem andamos, para onde vamos... é um grande tribunal de "santos", quando, na verdade, deveríamos ser uma congregação de maus amados, ou seja, tolerantes com os erros dos nossos semelhantes e gratos a Deus por nos amar mesmo assim. Porém, há uma enorme onda que nos leva ao patamar de fiscais da vida alheia, como se andar com Deus nos fizesse menos humanos e menos maus. Não, andar com Deus nos faz termos a consciência da nossa maldade e a humildade de reconhecer isso. Não tem como não amar a Deus depois de percebermos isso. Não tem como não  lutarmos contra o pecado também. Não para nos tornarmos perfeitos e aptos para Deus, mas para nos livrarmos daquilo que nos adoece. Isso nos fará livres da nossa maldade? Não. Um dia seremos, mas não será nessa Terra. 

Jesus prefere trabalhar com "Pedros", porque eles sabem o seu lugar. E o nosso lugar é de maus amados. Um dia seremos como Ele é. Por hora, somos aquilo que Deus quer que sejamos: "pescadores de homens". Pedro se achou indigno e jurava que Jesus concordaria com ele. Jesus concordou. Só que Jesus prefere os indignos mesmo, aliás, necessariamente para andar com Jesus nós temos que nos enxergar assim. É o início de tudo, é o antídoto contra o egoísmo e a autossuficiência. Reconhecer-se mau é pré requisito para o discipulado. Pedro passou no primeiro teste, está 100% inapto. Graças a Deus por isso!

Que Deus te abençoe.  




terça-feira, 31 de maio de 2022

Maus Amados


"Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!" (Mt 7:11)

Somos maus. Não fique chateado comigo, Jesus quem disse no versículo acima e em tantos outros na Palavra. Essa é uma verdade que todos deveríamos saber. Quando passamos pelo que chamamos de conversão, nós, diferente do que muitos acreditam, não começamos um processo de bonificação ou beatificação, ou seja, um processo onde passamos de seres maus para bons. Nós somos essencialmente maus, pelo menos após o Eden. Quando encontramos com Cristo e passamos a seguí-lo, o que acontece é que em nossa consciência percebemos que somos maus, porém amados, isto é, mesmo sendo maus, somos infinitamente e imerecidamente amados. Somos seres com um natureza má, porém totalmente cientes disso e gratos por esse amor imerecido. 

Esse saber desmistifica muitas coisas nas nossas vidas, como, por exemplo, a frustração de não sermos perfeitos. A busca pela perfeição é um dos planos mais bem bolados do Diabo para o cristão. Me desculpe, mas não é com pessoas perfeitas que Deus se relaciona. Essa busca pela perfeição além de trazer frustração, nos leva a querer demostrar uma realidade que não existe, nos tornando reféns de um personagem que criamos para nos mantermos no ambiente religioso. Sendo assim, hora nos achamos totalmente aptos para Deus e hora não. Vai de acordo com as nossas atitudes boas ou más na vida. Se pecamos: Deus não me aceita, se fazemos algo bom: Deus vai me abençoar. Esse pensamento é errado e tóxico. O ambiente religioso é disparado o mais propício para a hipocrisia. Tanto que quando alguém comete um pecado e esse pecado é exposto, logo há uma grande comoção, como se ninguém fosse mau o suficiente para cometer esse ou aquele pecado. 

Deus não está interessado na nossa divindade e sim na nossa humanidade. E o (ser)humano é composto por maldade. Então, Fabrício, você está dizendo que não há solução para nós? Quando Jesus foi questionado pelo jovem rico sobre como herdar o Reino dos Céus, Ele deixa o jovem achar que é bom o suficiente, para logo demonstrar que toda a sua bomdade humana não era suficiente para o tornar digno do Reino dos Céus. Não é gabaritar uma lista de 10 mandamentos que nos fará bons o suficiente. Depois que o jovem se foi, os discípulos questionaram Jesus: "quem pode ser salvo?" (Mt 19:25b). Então Jesus respondeu: "Para o homem é impossível" (Mt 19:26a). Em outras palavras: "não vai rolar, amigão". Que coisa, né? Que resposta mais desanimadora e frustrante. Talvez eles esperavam uma série de desafios para provarem que podem ser salvos, mas Jesus não fez isso. A resposta de Jesus foi um tanto frustrante para o homem que tem alguma expectativa em ser bom o suficiente para Deus. 

Só que Jesus não para por aí e continua: "mas para Deus todas as coisas são possíveis" (Mt 19:26b). Sabe o que Jesus está dizendo com isso? A minha vondade e o meu amor faz de vocês, homens maus, aptos a mim. A aptidão de vocês não é por causa de vocês, mas por causa de mim. É infinitamente impossível vocês serem bons, como é infinitamente possível eu amar vocês e torná-los aptos ao meu Reino mesmo sendo maus. Que incrível é essa verdade!

Bom é Deus. Se temos alguma coisa é pela misericórdia dele. Se respiramos, pensamos, interagimos, esperamos, sonhamos, conquistamos, é por misericórdia Dele. Não merecemos nem um centavo de vida. Mas aquele que é Bom, resolveu nos dar o que não merecemos. Inclusive Ele pode tirar quando quiser. Jó entendeu bem isso. Quando não entendemos esse princípio, temos a petulância de colocar Deus na parede. Afinal de contas, acreditamos que subimos no conceito de bondade e por isso temos alguns privilégios. Isso é doutrina demoníaca disfarçada de Evangelho. Por isso muita gente acredita que Deus tem que fazer o que queremos, se não faz é porque não somos bons o suficiente ou porque Deus não nos ama. É um ciclo vicioso que não nos deixa crescer como filhos amados de Deus. Nos tornamos religiosos que nunca evoluem. 

Entenda, não há vergonha nenhuma em reconhecer-se mau, pois é esse conhecimento que nos leva ao crescimento como humanos e como filhos de Deus. Esse conhecimento não tem que gerar em nós um comportamento irresponsável de pecados desenfreados, mas gratidão por sermos amados mesmo sendo maus. Maus, porém amados. 

Que Deus te abençoe!

terça-feira, 3 de maio de 2022

Saber Sofrer


O futebol têm suas expressões próprias. Certa vez um treinador disse após uma vitória difícil: "nós soubemos sofrer", ou seja, ele estava querendo dizer que, perante a dificildade, saber sofrer foi uma estratégia. Em outras palavras,  podemos dizer que as dificuldades são inevitáveis, por isso, temos que criar uma casca para resistirmos. No caso do time de futebol, a consciência da dificuldade os levou à vitória, na vida, a consciência da dificildade nos conduz a uma visão da vida mais real.

Quando entramos em uma dieta, muitos dizem: "imagine-se em forma, mais saudável...assim você encontrará ânimo para se exercitar e se alimentar melhor". O que acontece na maioria das vezes? Lidamos de cara com a dificuldade de se exercitar com regularidade e, já que a vida é tão tensa, encontramos o prazer na comida e logo nos jogamos de cara nas guloseimas. O pensamento de como estaremos no futuro não foi suficiente para nos motivar, porque depois de meses de dedicação nos olhamos no espelho e vemos mínimas diferenças. Então desanimados. 

Agora, não seria melhor estarmos prontos para o grande desafio que virá pela frente? Ao invés de pensarmos nas glórias, pensarmos nas perdas. Eu sei, muitos desistirão aí, mas pode ter certeza que quem entrar numa jornada difícil, ciente das dificuldades, estará bem mais preparado para enfrentá-las. A verdade é sempre o melhor caminho, principalmente quando se trata de perdas. Não adianta tentar se autoenganar com um suposto futuro, e ignorar o percurso sacrificial até ele.

É como aquela faculdade dos sonhos. Como é bom se imaginar com o diploma, exercendo a profissão e sendo influente na área. Porém, logo nos primeiros semestres a quantidade de conteúdo te devora e algumas matérias obrigatórias você odeia. O sonho é vão, se não estamos dispostos e conscientes do quanto iremos sofrer. Assim, a dificuldade não será um hóspede surpresa, mas alguém que você já sabia que viria. Então, você estará disposta a sofrer, porque fazia parte do acordo. Podemos nos armar e derrotá-lo, ou, como na maioria das vezes, nos segurar firmes a algum galho mais forte para esperarmos o furacão passar. 

Aprendemos desde cedo a maquiar a verdade. Querem ver um exemplo? Quando levamos nossos filhos para tomar vacina ou tirar sangue, o que dizemos? "É só uma picadinha de mosquito". Não, não é só uma picadinha de mosquito, dói de verdade. Achamos que maquiar a verdade muda o momento da dificuldade. É muito melhor e pedagógico ensinar os nossos filhos a lidarem com as dores da vida. Afinal de contas, o que é um injeção diante de um coração partido, de um amor não correspondido ou uma perda inesperada? Dói, a vida real dói bastante. Estão por que fingir que não é assim? Podemos dizer para os nossos filhos que injeção dói sim, mas passa, assim como as dores da vida.

Jesus disse: "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo". É exatamente sobre isso! Jesus fala de vida eterna, que é o nosso alvo final, mas nos prepara para as aflições. Jesus venceu o mundo, mas as aflições nós que venceremos. Jesus garantiu um futuro, mas o saber sofrer no percurso cabe a nós. Não é atoa que muitos desistem da fé. Ou pior, muitos tranformam a vida dura cristã em um meio para enriquecer e se livrar dos problemas. É lógico que essa vida cristã não se sustenta. Ignorar os sofrimentos não os tiram de lá e nem os impede de vir no futuro. A única forma de lidarmos com eles é os encarando de frente, mesmo que não sejamos capazes de vencê-los. Isso nos amadurece, nos cria cascas e não nos deixa cair na ilusão. 

O céu é uma realidade, mas a sua carne vai tentar te atrapalhar. Saber sofrer é a melhor expressão quando falamos em lidar com a nossa carne. É um sofrimento diário. Não têm um dia que a nossa carne não nos chama para o combate. Não é atoa que Paulo usa a expressão "esmurrar o meu próprio corpo". Devemos esmurrá-la, assim como a carne nos esmurra também. É uma luta que dura "só " a vida toda. É um combate que não se vence por knockout, pois o adversário sempre se levanta pra te derrumar. Então, cabe a nós não sermos knockouteados também. Esse é o nosso propósito, aguentarmos como Rock Balboa, ainda que os nossos olhos estejam inchados, sigamos firmes na luta sabendo que é assim que é. Saber sofrer é estar ciente que todos os dias nossa carne baterá na nossa porta e mesmo assim dizermos: "já te esperava, vamos ao combate!". 

De todos os saberes que podemos adquirir ao longo da vida, saber sofrer é fundamental. Podemos ser excelentes médicos, professores, pastores, cantores, engenheiros, pais, filhos, amigos... se não formos mestres no sofrer, falharemos miseravelmente. 

Entenda: não é sobre não cair, é sobre estar pronto para o combate e saber que dores, decepções, traições, desilusões e traumas farão parte das nossas vidas. O ladrão pode até tentar te pegar de surpresa durante a noite, mas você estará sempre pronto para detê-lo.

Que Deus te abençoe!

terça-feira, 5 de abril de 2022

Uma Vida com Excelência

 


"Eu sou o Deus Todo Poderoso, anda na minha presença e sê perfeito." (Gênesis 17:1)

Sabemos que jamais seremos perfeitos. Perfeito é Deus, somente Ele. Por isso eu só posso entender essa "perfeição", citada do versículo base, como EXCELÊNCIA e vou explicar porquê. A palavra "excelente" causa em mim uma sensação muito boa. Mesmo sendo maus, nós, seres humanos, ainda somos capazes de exercer excelência. E o que é ser excelente? Ser excelente é fazer qualquer coisa da melhor forma possível. Ou seja, é dar o que existe de melhor em nós para algo. Podemos ser excelentes no trabalho, nos estudos, no nosso papel familiar, na obra de Deus, enfim...a excelência é uma doação deliberada e consciente de que o básico é muito pouco. 

Muitas vezes nos iludimos achando que só poderemos ser excelentes quando conquistarmos um melhor poder aquisitivo. Saiba que excelência não tem nada a ver com seu status. Uma pessoa com muitas posses pode não ser excelente e uma pessoa simples pode ser totalmente excelente. Vocês ja foram em uma casa de família simples onde tudo estava arrumadinho? A possoa colocou a melhor toalha na mesinha simples de madeira, os copos e talheres todos arrumados no precário armário e a caminha bem forrada com um lençol simples e costurado. Isso é excelência. É você fazer o melhor que você pode com o que você tem. Excelência é fazer bom uso da vida. 

Ser excelente é você abrir a dispensa e preparar o melhor café da manhã pra sua família. É você, motorista, cuidar do seu carro, sabendo que pessoas entrarão nele e que elas precisam se sentir bem. É o professor não somente jogara matéria no quadro, mas acompanhar o desenvolvimento do aluno, saber o que se passa na sua vida particular, é querer fazer dele um adulto preparado para a vida la fora. É um pai que deixa o celular de lado e vai brincar com o seu filho, voltando a ser criança por uns minutos. É o profissional que faz além do que o chefe pede. Ser excelente é fugir das rotinas enfadonhas, de cumprir com obrigações protocolares, de fazer sempre o que se pede. Ser excelente é sempre tornar a vida e tudo o que está no nosso campo de ação melhor, mais agradável, mais excelente. 

Jesus diz que miserável é aquele que só faz o que lhe pedem (Lc 17:7-10). Essa pessoa vive para cumprir obrigações. E as cumpre protocolarmente. É sempre regular e ser regular a mantém na sua zona de conforto. Nunca saberá o que é excelência. Paulo fala sobre a excelência e ele dá um nome a ela: amor (1 Cor 13). O amor não é só excelente, é sobremodo excelente. Paulo diz: haja com excelência, ame. Tudo que amamos fazemos com excelência. Então por que quase nada em nossa vida é feito com excelência? Porque amamos pouco. Imagina o rapaz ao saber que aquela menina que ele paquera vai assistir a sua partida do futebol na quadra da escola? Ele certamente fará a melhor partida da vida dele. O amor faz isso com um simples futebol entre amigos. O amor provoca o que há de mais excelente em nós. 

Imaginem se fossemos capazes de fazer algo para Deus, à altura de Deus. Nem com todo o recurso disponível do mundo, nem com o mais capacitado promotor de eventos do planeta, nada chegaria nem perto do que Deus merece. Então por que Deus aceita o que oferecemos a Ele, mesmo não sendo dignos nem capazes de oferecê-lo? É porque Ele não olha para a nossa incapacidade e limitação, mas para a nossa excelência no fazer, mesmo sabendo que nada do que fizermos será do tamanho Dele. É como a criança que desenha o pai e a mãe com aqueles rabiscos deformados. Nós achamos lindo, não é verdade? Muitos acham que podem comprar Deus com os seus eventos luxuosos. Não aprenderam nada com a oferta da viúva. 

Eu sempre lembro do menino e a cesta com cinco pães e dois peixes quando eu penso em excelência (João 6:1-14). Jesus precisava alimentar uma multidão, e o menino pegou o que tinha de melhor e deu para Jesus. Aquela quantidade não servia pra alimentar nem os discípulos, mas ele deu o melhor, pois era tudo que tinha pra oferecer. Ele deu sua excelência e sua excelência se transformou em milagre. Não importa a quantidade, se foi feito com excelência no reino dos homens, o Reino de Deus trata de tornar isso milagre. É uma chavinha que vira no Reino dos Céus toda vez que agimos com excelência. O insuficiente se transforma em abastança. Não imporque o que se tem em mãos, importa o que se faz com isso. Se eu me recuso a dar o pouco que tenho por medo de ser ridicularizado, eu estou perdendo uma grande iportunidade de mover os céus. O meu orgulho e a minha falta de fé me impedem de ser excelente com o pouco porque eu aprendi que eu preciso de muito pra ser excelente. Esse muito nunca chega. Não com excelência. Você pode ser tornar um bilionário, mas se esse bilionário não soube ser excelente quando era um assalariada, jamais será agora. Ser excelente é questão de princípio, não de condição. 

Quando acordar diga: eu preciso ser excelente em tudo que eu fizer a partir de agora até a hora de dormir novamente. Dê o seu melhor sorriso, seu melhor abraço, sua melhor escuta, seu melhor conselho, sua melhor paciência, sua melhor versão. O que você pode oferecer de melhor hoje, ofereça. Excelência não tem preço e nem perece. Viva com excelência!

Imagine um mundo onde as pessoas se tratassem com excelência. Pode até ser uma utopia, mas faça a sua parte e seja a excelência que você gostaria de ver no mundo. 

Que Deus te abençoe e você que abençoe o mundo com excelência. 


Levanta-se e Ande!

"Então Jesus lhe disse: 'Levanta-se! Pegue a sua maca e ande.'" (João 5:8) "Tenho-vos dito isso, para que em mim tenh...